sexta-feira, 21 de maio de 2010

Alimentação Infantil ...entrevista

Em março de 2008 fiz uma entrevista para Jornal Zero Hora sobre alimentação infantil. Confira a entrevista!

Um papinho com... Ana Flávia Stein Ferreira, nutricionista

Motivo freqüente para as brigas na hora das refeições, as recusas das crianças em comer precisam ser investigadas. Balançar a cabeça negativamente frente à colher e fugir do aviãozinho são gestos que permitem, à primeira vista, inúmeras interpretações. É preciso observar se existe algum outro sintoma de indisposição, como olheiras e cansaço, se os horários das refeições e o cardápio são adequados ou, ainda, se seu filho está tentando chamar sua atenção de alguma maneira. A nutricionista Ana Flávia Stein Ferreira, mestre em Ciências Médicas da Pediatria pela UFRGS, fala sobre o que deve ser feito quando a criança não quer comer.

Meu Filho - Quando a criança se nega a comer, o que pode estar por trás disso?

Ana Flávia Stein Ferreira - O motivo pode ser patológico, alguma dor, alguma doença, um mal-estar. Depois tem que observar se a criança, tirando esses fatores, está tentando chamar a atenção. Às vezes, ela não come para chamar a atenção do pai, da mãe, da avó. Para dizer que a criança não come um determinado tipo de alimento, tem que fazê-lo de diferentes formas: cenoura cozida, ralada, na massa da panqueca. Se ela recusar sempre, é porque não gosta e não quer comer. Os pais devem achar alimentos alternativos que têm aquele nutriente, para a criança não ficar sem. O cálcio, por exemplo, está no leite e nos derivados e também nos vegetais verdes puros. Quando você vê que é chantagem, que ela não come a cenoura ralada mas come a cozida, pode disfarçá-la, colocá-la de outra forma. A mãe é sempre o pivô da chantagem. Então, tem que pedir para outra pessoa dar a comida, para ver se o filho come. As crianças são muito espertas, tem que cuidar. Se elas têm fome, comem. Se estão fazendo manha ou jogo, não estão com tanta fome assim. A mãe tem que observar também se não está dando pouca atenção.

Meu Filho - Como a criança vai desenvolvendo o paladar, selecionando o que gosta e o que não gosta de comer?

Ana Flávia - Até os sete anos, as crianças aceitam mais os alimentos. A gente procura fazer com que comam de tudo: carne, legumes, frutas. Elas estão definindo o paladar. A partir dos cinco, seis anos, começam a mostrar as preferências, definindo se gostam mais de doce ou de salgado, do alimento ralado ou cozido. As mães acabam confundindo o fato de os filhos não preferirem algo com o de não gostarem. Se a criança gosta de cenoura ralada, elas nem fazem mais a cozida. Mesmo que a criança prefira uma ou outra, tem que comer o alimento de outras formas. É preciso provar sabores, texturas, consistências, temperaturas diferentes. Os pais têm que dar exemplo sempre. Tem muitas famílias que não comem miúdos porque não gostam, então que procurem alternativas: se a criança não come miúdos em casa, pode comer num restaurante ou na casa da avó. Não se deve dar sempre o prato que mais gosta. Uma vez que outra até pode, mas não com freqüência. É importante os pais observarem se não estão dando refeições muito seguidas em um curto espaço de tempo, aí não dá tempo de a criança sentir fome. Se ela tomou uma mamadeira com farinha láctea às 10h, não vai estar com fome no almoço. Os lanches precisam ser mais leves, e os intervalos entre as refeições, de duas horas e meia a três horas.

Meu Filho - Até onde os pais devem insistir?

Ana Flávia - Têm que parar de insistir antes de provocar náusea ou ânsia de vômito, tentar trocar a pessoa que está dando a comida. Se a mãe não tiver alternativa, deve dar a comida até a criança recusar, aí pára. É preciso ter horários definidos. Se não quis o almoço, mas às 15h vai ter um lanche, tudo bem. Não se pode nunca trocar o almoço por mamadeira - é muito mais fácil chupar o leite do que mastigar a comida, e a mastigação é importante por causa da formação dos dentes. É muito comum fazer isso, ou trocar a comida por um pacote de bolacha, só para a criança comer. Não pode. Se ela começar a recusar todas as refeições, tem que investigar, ficar atento à perda de peso.

Meu Filho - Punições são válidas em algum momento?

Ana Flávia - "Se você não comer, não vai ganhar sobremesa." A sobremesa faz parte da refeição, e você não pode punir a criança com isso. "Se você não comer, não vai ver TV", até pode, mas não com freqüência, ou a criança vai sempre se sentir culpada quando não comer direito. E o hábito de socar comida nos filhos pode levar ao descontrole e à obesidade mais tarde. Alguns pais, sentindo culpa por ficarem muito tempo ausentes, estão sempre oferecendo alguma coisa de comer. Tem crianças que fazem 10 refeições por dia. Claro que às vezes é necessária uma punição, mas não na questão alimentar. "Se você não se alimentar bem, não vai ao futebol porque vai ficar fraco" é aceitável, mas "se você não comer, nunca mais te dou batata batata frita" não pode ser dito nunca. Não se pode negociar com comida, mas com outra coisa. Se a mãe está chantageando, ela dá margem para a criança fazer isso também.

Meu Filho - Quando é hora de se preocupar?

Ana Flávia - Se houver falta de apetite por um período superior a três dias, perda de peso, se a criança não comer várias refeições seguidas. Se ela recusou o almoço mas comeu bem no lanche da tarde, tudo bem. Quando não está bem, a criança normalmente mostra outros sintomas, como mais cansaço, fadiga em excesso, olheiras, sono prolongado de manhã. Aí tem que correr para o pediatra para fazer uma avaliação.


fonte:http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a1796799.xml&template=3898.dwt&edition=9480§ion=342

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